Estudo mapeia perdas pós-colheita, monitora o uso de agrotóxicos e propõe soluções para fortalecer a fruticultura sustentável no Estado
Foto: Arquivo/Angela Maria da Silva Mendes
Pesquisa realizada nos municípios de Manacapuru (distante a 68 quilômetros de Manaus), Rio Preto da Eva (a 57 quilômetros de Manaus) e Itacoatiara (a 176 quilômetros da capital), avaliou e quantificou as perdas pós – colheita que produtores de banana, mamão e abacaxi enfrentam, nesses respectivos municípios.
O estudo também monitorou o uso e o descarte de agrotóxicos, identificando práticas que precisam ser ajustadas para reduzir riscos ambientais e de saúde. A iniciativa foi apoiada pelo Governo do Estado, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), no âmbito do Programa Amazônidas – Mulheres e Meninas na Ciência, via edital n° 002/2021.
Intitulada “Ação estratégica de avaliação e quantificação de perdas pós-colheita e de uso de agrotóxicos em fruteiras, como base para o consumo e produção responsável no Amazonas”, coordenado pela pesquisadora, professora e doutora em Agronomia Tropical, Angela Maria da Silva Mendes, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM),a pesquisa procurou contribuir para o alcance das metas da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) relacionadas ao consumo e à produção sustentável.
De acordo com a coordenadora do projeto, a pesquisa proporcionou um diagnóstico inédito sobre os desafios da fruticultura amazonense. Entre os achados mais importantes, está a constatação de que o manuseio inadequado das frutas, aliado à incidência de doenças fitopatológicas, é uma das principais causas de perdas pós-colheita.
“O estudo buscou identificar os fatores de perda pós-colheita, como o manuseio inadequado, o que PODE causar danos mecânicos nas frutas, e a incidência de doenças (fitopatológicas). Os problemas fitossanitários são a principal causa de grandes perdas pós-colheita”, pontuou Angela.
As etapas de colheita, casa de embalagem, transporte, comercialização e até mesmo consumo foram analisadas, revelando que em cada uma delas há pontos críticos que resultam em desperdício de alimentos e aumento de custos para o produtor.
Consumo e produção responsável
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e agricultura (FAO), cerca de 30% da produção agrícola mundial é perdida ou desperdiçada após a colheita, o que corresponde a 1,3 bilhão de toneladas de alimentos descartados todos os anos.
A pesquisa está alinhada ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) nº 12, que tem como objetivo garantir padrões de consumo e produção responsáveis, promovendo a redução do desperdício de alimentos e o manejo adequado de produtos químicos.
“A ideia do projeto surgiu por se tratar de uma abordagem multidisciplinar que envolveu pesquisadores das áreas da fitotecnia e fitopatologia e da necessidade de entender e abordar os desafios da cadeia produtiva de frutas no estado do Amazonas. A pesquisa buscou investigar as limitações que levam a perdas significativas e fornecer informações que ajudem o estado a se alinhar com os ODS da ONU”, explicou a professora.
Metodologia
Fotos: Arquivo/Angela Maria da Silva MendesA pesquisa foi conduzida a partir de entrevistas com técnicos e produtores rurais, além de observações diretas nas propriedades. Foram feitas análises a respeito das condições ambientais durante a colheita, transporte e armazenamento, bem como registros de danos físicos e doenças. O estudo também investigou o uso e descarte de agrotóxicos nos municípios pesquisados.
“Buscamos identificar os produtos utilizados, o destino final das embalagens, os locais de armazenamento e preparo das caldas. O monitoramento desses fatores é essencial para reduzir impactos ambientais e propor medidas mais seguras”, ressaltou a coordenadora.
Todas as informações levantadas pela pesquisa foram registradas em diários de campo e acompanhadas de fotografias. A partir desse diagnóstico, a equipe da pesquisa organizou reuniões de validação em cada município, reunindo produtores e técnicos de órgãos oficiais para apresentar os resultados, ouvir sugestões e construir coletivamente estratégias de prevenção e redução de perdas.
Impactos da pesquisa
De acordo com a pesquisadora, a iniciativa tem beneficiado produtores e consumidores. Para os agricultores, as informações levantadas apoiaram a tomada de decisões, reduziram desperdícios e otimizaram custos de produção.
Já para os consumidores, a expectativa alcançada foi de maior disponibilidade de frutas no mercado e preços mais acessíveis, aliados a práticas agrícolas mais sustentáveis. Os resultados da pesquisa foram compartilhados diretamente com os produtores, por meio de reuniões de validação em cada município.
Apoio da Fapeam
Para a coordenadora, o apoio da Fundação é decisivo nas atividades de pesquisa voltadas ao setor agropecuário no estado.
“As atividades de pesquisas no setor agropecuário do estado do Amazonas só são possíveis de se realizar com o fomento de agências financiadoras. A Fapeam é a segunda Fundação de Apoio à Pesquisa no Brasil, que mais deu apoio e incentivo por meio de editais voltados para essa área. Sem o apoio de campo e insumos para os laboratórios multidisciplinares, não seria possível realizar esta pesquisa”, pontuou a pesquisadora.
Programa Amazônidas – Mulheres e Meninas na Ciência
O Programa é uma iniciativa do Governo do Amazonas, desenvolvida pela Fapeam, e integra o Movimento Mulheres e Meninas na Ciência. Seu objetivo é ampliar a representatividade feminina no campo da Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) local, por meio da concessão de auxílio-pesquisa para despesas de capital, custeio e bolsas. A proposta é incentivar projetos de pesquisa, tecnologia e inovação como ação afirmativa, fortalecendo a liderança feminina nessas áreas.